quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

I Cento Passi


Era uma terça-feira. Mais uma vez estava em casa, sem fazer nada de muito interessante, só o de sempre por aqui. Ler algo, assistir algum filme ou série, jogar um ou outro joguinho, etc. Na televisão, o de sempre. Nada. Até que mudo esporadicamente os canais, e paro na emissora mais interessante da tv aberta: Tv Cultura. Estava passando um filme na seção de amostra internacional de cinema. Era o filme Cem Passos (I Cento Passi), filme italiano, do ano 2001, que chegou a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro também. Lindo. Apesar de ser considerado filme do gênero "máfia", não chega a ser um filme do estilo. Conta a história (verídica) de Peppino Impastato, siciliano de família pobre, mas uma pessoa que, apesar de que uma pessoa sozinha não pode mudar o mundo inteiro, fez a diferença naquilo que acreditava. Astuto, idealista, inquieto diante a corrupção, injustiça e aquela antiga "máxima" dos 3 macacos: não ver, não ouvir e não falar. Demonstrava firmeza, confiança. Acima de tudo, fazia ressurgir a esperança nos próximos a si. Faz ver-mos que existem pessoas que como nós, vêem o mundo de forma diferente, e não se inquietam ou aceitam plenamente o que se passa. Ele tinha um senso, e algo pelo o que acreditava. E por isso ele lutava. Ele amava a mãe. Não se dava com seu pai. Sabia contagiar os outros. Sabia usar as palavras como em um jogo de xadrez. Sabia adorar uma bela paisagem, olhar com outros olhos uma pintura ou fotografia. Entender as frases e poemas de um livro. Não se deixar levar pelo ato normativo e viver a vida como mais um, ele fazia da vida aquilo que idealizava, tendo a felicidade encontrada naquilo que fazia e gostava. Ele tinha em sua mente e coração, tudo aquilo que precisava. Não teve chance de parar e dizer: Valeu a pena. Mas todos podem dizer isso por ele. Enfim, não somos tão diferentes assim.

.Como bem dizia Dostoiévski, existem dois tipos de pessoas. Não preciso de muito mais, para dizer que como tantos outros, ele não era "mais um", ele era o "desigual". Abaixo vai um poema que certa vez ele fez a mãe dele ler enquanto ele ficava olhando para ela. Não preciso dizer que isto sim, é sublime.

Súplica a minha mãe

É difícil com palavras de filho
aquilo a que intimamente bem pouco me pareço.

És a única no mundo que sabe o que esteve sempre
no meu coração, antes de qualquer outro amor.

Por isso tenho de dizer-te o que é horrível saber:
é na tua graça que nasce a minha angústia.

És insubstituível. Por isso está condenada
à solidão a vida que me deste.

E eu não quero estar só. Tenho uma fome infinita
de amor, do amor de corpos sem alma.

Porque a alma está em ti, és tu, mas tu
és minha mãe e o teu amor é a minha servidão:

vivi a infância como escravo desse sentimento
supremo, irremediável, de um fervor imenso.

Era a única maneira de sentir a vida,
a única cor, a única forma: agora terminou.

Sobrevivemos: e é o caos
de uma vida que renasce fora da razão.

Suplico-te, Ah, suplico-te: não queiras morrer.
Estou aqui, sozinho, contigo, num Abril futuro …

Pier Paolo Pasolini

Repito sem margens de erro.
Não somos tão diferentes assim.
:)

2 comentários:

Clara Campelo disse...

quase nao parece com vc o carinha do filme neah? Oo
UHSUHSUshuS

;*

Unknown disse...

I cento passi... não assisti quando passou, tive que buscar na net, em italiano (porca miseria!). Ah, acho que o filme é do ano 2000 (vide http://www.imdb.com/title/tt0238891/)

T+